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Mãe de duas estrelinhas

Mãe de duas estrelinhas

09.Nov.21

Ser mãe na era digital

Em Maio escrevi um texto em modo desabafo e nunca o partilhei . Chegou o dia de o partilhar . De voltar a este meu cantinho de partilha , de escrita, que me tem feito muita falta . Atualmente as inquietações são outras , que a seu tempo também partilharei . Mas de qualquer forma , achei importante deixar aqui a minha visão desde que é sem dúvida o papel mais desafiante da minha vida : Ser Mãe. 

 

Este é talvez um dos textos mais sinceros que escrevi até hoje . 

Estou a passar uma das fases mais complicadas da minha vida . Estou numa procura constante do meu eu. Quem é a Sara ? O que faço aqui neste mundo? Qual vai ser o meu futuro? Perguntas cliché? Sem dúvida. Mas é a verdade nua e crua do que sinto atualmente. 

Antes de engravidar das gémeas estava plena, feliz. Tinha emagrecido como nunca, atingi o peso que pretendia, sentia-me bem em tudo o que vestia e isso dava-me uma confiança imensa. E ser mãe era sem dúvida um dos grandes objectivos da minha vida.

Entretanto engravidei e vivi os meses que me foram permitidos de uma forma intensa mas mesmo feliz. Até que o meu mundo desabou. Passei umas semanas duríssimas e tive de me reerguer pois sentia que também merecia ser feliz e que iria tentar ser mãe novamente. Se foi fácil ? Nada. Meses e meses de terapia, de tentar perceber o meu “eu”, a minha vida. Casei com o homem da minha vida, permiti-me continuar a ser feliz e a seguir em frente. 

Até que engravido novamente. Foi uma gravidez tranquila relativamente à anterior mas acompanhada de muitos medos. Medos esses que me acompanharam ao longo dos primeiros meses da Maria Pedro sem eu me aperceber do peso deles. Se me perguntarem se tenho saudades da Maria bebé ? Muitas . E dos primeiros meses como mãe da Maria ? Nenhumas . Tudo foi um desafio e eu estava envolta em tantos medos e fantasmas que assombravam a minha cabeça constantemente que não consegui viver em pleno mas sempre em constante questionamento. Todos os dias questionei o meu papel de mãe. TODOS ! Aliás acho que ainda acontece e na verdade acho que me irá acompanhar para sempre. 

E é aqui que entram as redes sociais. E porquê ? 

Porque a quantidade de informação ou desinformação que nos invade o telemóvel todos os dias é gritante. O mundo perfeito que pauta a maior parte das pessoas que nos rodeiam virtualmente, a quantidade de “especialistas” em maternidade que surgiram nos últimos anos. E quando olho para tudo isto questiono-me, ponho-me a mim em causa. Que estúpido. Porque raio hei-de questionar-me a mim ? Como mulher e como mãe ? Mas porque haveria eu de o fazer se eu Sara sou um ser único e a minha filha também . Se não há duas pessoas iguais e cada um é especial à sua maneira ? Que loucura. 

A amamentação. Só amamentei a Maria durante 2 meses e sempre com suplemento . Senti-me péssima logo na maternidade quando não tivemos alta porque a Maria estava com tremores por baixa glicémica. A culpa era minha . Era eu que tinha de fazer o melhor por ela. Seguimos com o suplemento porque era o melhor para ela. E na verdade foi. Se me continuei a sentir péssima ? Apenas quando sentia que era julgada pelos outros, porque mãe que dá suplemento não fez o suficiente para tentar tudo por tudo para amamentar. Não quero com isto dizer que não considero o leite materno o melhor alimento para o bebé. A amamentação não funcionou connosco. Se tenho consciência do porquê? Completamente e por isso gostava que fosse diferente num próximo filho. Mas com a Maria Pedro não funcionou e está tudo bem na mesma. 

O sono. Esse maldito. A Maria dorme bem ? Dorme ! Se sempre foi perfeito? Não foi , teve altos de baixos. E eu durmo bem desde que fui mãe ? Durmo. E se soubessem como me culpo por isso. Que ridículo pensam vocês. Quando a Maria tinha dois meses fui a um workshop sobre sono. Estávamos a passar um momento “complicado” (no fundo , perfeitamente normal) com os sonos dela. A nossa filha só dormia no ovo e de barriga para baixo. Vejam lá bem como a pequena era teimosa que só gostava de dormir como não podia. No fim da sessão, fui trocar algumas palavras com a formadora e partilhei algumas das minhas preocupações sendo que uma das principais era que eu dormia bem e profundamente , e que não acordava com ela a mexer-se por exemplo. Ao que ela me responde algo surpresa : “ E a mãe culpa-se porque dorme? Agradeça , há tantas mães que gostavam e não conseguem”. Pois é, eu sou uma mãe que dorme profundamente. E por mais que isso me ajude a descansar, acreditem que ainda me consigo culpar muitas vezes por esse motivo porque fico com medo que a minha filha algum dia precise de mim e eu não ouça, por muito que tenha a certeza que é impossível que aconteça. E a Maria chegou a dormir uma noite (umas horas) no ovo e muitas vezes de barriga para baixo. O desespero fala mais alto em alguns momentos e nós só queremos o melhor para todos. 

O andar . Durante meses esta questão assombrou os meus dias . Criamos expectativas ,erradamente, nos nossos filhos e depois não sabemos lidar com o não acontecimento das mesmas. A Maria no primeiro ano de vida era uma bebé que gostava de comer e por isso era mais gordinha. O peso obviamente que dificultou de certa forma a sua mobilidade e na minha cabeça a Maria estava “atrasada”. Nunca gatinhou, não tinha a mínima curiosidade sequer em pôr-se de pé e parecia não ter força nas pernas. Para me tranquilizar e até numa perspectiva de a poder estimular da forma mais correcta, recorremos a um fisioterapeuta que nos descansou e disse que num mês a Maria estaria a andar . E confirmou-se . Aos 15 meses e meio a Maria estava a dar os primeiros passos, e desde aí nunca mais ninguém a parou. 

Mas afinal que peso teve o digital em todos estes pontos que aqui mencionei ? Todo o peso. O que vemos à nossa volta tem muita influência na forma como encaramos a vida. E a comparação é inevitável. E é uma porcaria que assim seja. Mas o que sinto é que é isso que se promove. A perfeição. Aquela que não existe precisamente porque somos todos diferentes e é impossível haver um padrão de desenvolvimento que englobe todas as crianças. Até mesmo os adultos.

Por fim gostava de dizer para quem me lê e é mãe ou pai para não se sentirem culpados. Mas não o vou fazer porque não adianta. Porque nos vamos sentir sempre culpados. Porque no fundo aos poucos vou tendo consciência que essa culpa também faz parte deste papel de pais que assumimos para o resto das nossas vidas. Acho que é a vontade de sermos os melhores pais que os nossos filhos merecem ter. 

 

Com carinho , 

Sara 

 

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