Como vivemos a nova gravidez depois da perda
Adiei a escrita deste texto inúmeras vezes. Mas achei que devia partilhar esta vivência convosco que me têm acompanhado em todo o processo. Quem sabe não confortará o coração ansioso de alguém que me lê.
Ansiedade. Aquele sentimento tão temido. Mas que inevitavelmente nos acompanhou. Agora de uma forma diferente . Aquela ansiedade de estar "quase" e querermos tê-la nos braços, confiantes de que tudo vai correr bem . Mas nem sempre foi fácil. Demorei até conseguir desfrutar desta gravidez, viver esta bebé como ela merecia.
Fui definindo patamares por semanas. Primeiro as 12 , depois as 20, as tão temidas 25 , e agora as 30 . Seguem-se as 32, as 34 , e a semana em que ela quiser nascer . Houve semanas mais "compridas", em que parecia que os dias não passavam. Mas agora, quando olho para trás , vejo como tudo passou rápido. Estamos no terceiro trimestre, com uma Maria gigante a caminho das 30 semanas.
E quem pensa que apenas a mãe sente e vive em sobressalto numa nova gravidez depois de uma perda, está muito enganado. Também tivemos um pai muito ansioso, com muito receio de uma nova perda. E se na outra gravidez era ele que me acalmava, nesta exigiu mais dos dois a todos os níveis. Havia sempre aquela pressão que ambos ímpunhamos, mesmo que inconscientemente, que já sabíamos "tudo" por isso estaríamos mais atentos a todos os sinais. E não podíamos estar mais enganados. As gravidezes foram diferentes, como aliás é comum, mas uma simples dor de costas nesta, remetia logo para o pensamento de uma possível infecção renal como aconteceu na anterior; quando tive contracções de Braxton-Hicks, coisa que não tive ou não detetei na anterior, levei algum tempo até conseguir relaxar e descartar a hipótese de estar com contrações de trabalho de parto. Cheguei a ir às urgências, mesmo sabendo que já estava tudo calmo, mas precisava de o ouvir para conseguir sossegar este coração e dormir descansada. E se no início disse que desta vez iria às urgências as vezes que fossem precisas, ainda caí no erro do receio de ir com medo de ser julgada, de estar a ser paranóica. Mas fui. E foi no dia em que fiz 25+3, o tempo com que as nossas Marias nasceram. Não tenho dúvidas que o peso que esta meta tinha para nós, interferiu na gestão das emoções do dia. Mas quando já tivemos uma experiência tão dolorosa, torna-se muito complicado gerir tudo e acalmar. Mesmo assim tenho a certeza que temos feito o melhor pela nossa filha quem vem a caminho.
E por muito que vos digam que não podem chorar que a bebé sente, que temos de estar calmas, é muito difícil. Ainda mais quando as hormonas estão aos saltos. Chorei, também tive dias que fui abaixo. Mas acho que fiz um grande trabalho interior. Permiti-me ser feliz, viver estar gravidez com a "calma" que não vivi a outra, e projetar todos os pensamentos para Agosto . Temos tirado muitas fotos, temos comprado coisinhas para ela porque ela também merecia as suas (apesar de já ter imensa coisa das irmãs),tenho costurado muito para o seu enxoval e temos passeado. Destaco o passeio porque desde a outra gravidez que me questionava inúmeras vezes se iria conseguir ter uma vida "normal" de grávida nesta gravidez. E tem sido tão bom poder fazer essa tal "vida normal", poder passear e pôr esta barriguita ao sol. E como sou grata por tudo isto.
Será outra Maria . A nossa Maria Pedro. Mais uma vez em homenagem ao tio Rui Pedro e por isso tão fácil de escolher. Será certamente uma bebé muito abençoada e protegida, pelas irmãs Marias e pelo tio. A nossa Pê. E uma coisa é certa, energia não lhe falta. Acho que estamos tramados.
Um beijinho