A importância do apoio
Em alguns textos que escrevi, referi que tenho tido ajuda ao longo deste último ano . Quando falo em ajuda , falo especificamente em ajuda de uma psicóloga. Mas já lá vou.
Antes de ter sentido necessidade de procurar esta ajuda, tivemos muito apoio ao longo de todo o processo . Desde o dia em que fiquei internada que os meus pais e os meus sogros se mobilizaram para nos ajudar. A minha mãe largou tudo e fez o que ela tão bem sabe fazer . Estar e Ser. Sem dúvida que o apoio dela se tornou fundamental para mim. A forma positiva como vê a vida, como nos conseguiu transmitir isso para que nos aguentássemos ao longo de todo o processo, foi, para mim, decisiva na maneira como olho agora para tudo o que se passou. É uma mãe e mulher com M grande . Os meus sogros deixaram o seu cantinho e mudaram-se para cá e foram igualmente um grande apoio. E quando falo em apoio dos nossos pais refiro-me a tudo . Desde as visitas no hospital, a orientarem as coisas cá em casa, fazerem companhia ao Bruno, e posteriormente a assegurarem tudo quando o nosso dia era passado na neonatologia. Chegar a casa e ter as coisas feitas, ter o almoço ou jantar pronto, acreditem que é das maiores ajudas que se pode ter quando se passa por estas vivências.
Quanto ao apoio no hospital, penso que poderia haver mais preocupação com os pais que estão a viver estes momentos. Como em todo o lado , há profissionais mais e menos sensíveis às situações. Felizmente na neonatologia cruzámo-nos com profissionais incríveis, com uma sensibilidade fora de série, e que nos momentos difíceis, de dor , também quebraram. E choraram connosco. E no coração deles também cabem os nossos filhos enquanto estão nas suas mãos. Infelizmente também vivi duas ou três situações menos felizes com profissionais de saúde. Mas essas, tal como as palavras, leva-as o vento.
Depois da partida da MR, tirámos uns dias para sair de Lisboa e afastarmo-nos da nossa realidade. Para quem não sabe, a realidade que vivemos, permite gozar a licença na mesma. Mas há alguma dificuldade por parte da SS em dar resposta a estas situações. Mais uma vez tivemos a sorte de apanhar uma excelente profissional que nos resolveu a situação rapidamente e ficou tudo tratado. Como o Bruno tinha esses dias, rumámos a norte e passámos uns dias com a família e amigos e, tirámos também uns dias para nós. Acho que estes dias tiveram muito peso na forma como voltámos posteriormente à rotina. Quando nos rodeamos das pessoas certas, o caminho que se segue é mais fácil de encarar. E no fundo também sou uma sortuda, porque a pessoa que tenho ao meu lado , que escolhi para a vida toda, foi o maior apoio que poderia ter. Conversámos muito , chorámos muito, partilhámos memórias, sentimentos . E muito importante, pelo menos no meu ponto de vista e na minha experiência, agarrámo-nos e dedicámo-no muito um ao outro , namorámos muito e tomamos a decisão de seguir em frente e sermos felizes.
Quando referi que deveria haver mais preocupação no hospital com pais que passam o que estamos a passar, referia-me a apoio psicológico. Acho que era importante durante os internamentos haver um psicólogo que nos visitasse e falasse connosco. Assim como uns meses depois. Haver preocupação em acompanhar de alguma forma esses pais. Mas sei que isso já é pedir demasiado e entramos em na discussão das falhas no SNS.
Ao fim de alguns meses senti necessidade de procurar ajuda de um psicólogo e fui ao HSFX para me informar se estaria disponível esse apoio. A resposta foi positiva e cheguei a ir a duas consultas. Mas não resultou . A abordagem não era a mais adequada ao que eu sentia que precisava no momento, consultas de meia hora a despachar, demasiado focado no futuro, a desvalorizar demasiado o que eu tinha vivido. Mas em Outubro senti novamente necessidade de conversar com alguém. Senti que precisava da ajuda de um profissional. E de uma forma imprevista cheguei à psicóloga que me acompanha até hoje. Marquei consulta, aceitei a terapia e fui ficando . Uma abordagem completamente diferente da primeira, com muitas conversas do passado, gravidez, parto e pós parto, com muitos temas debatidos. Mas acima de tudo , uma grande ajuda no percurso que fiz atá agora. E por isso cada vez menos sinto necessidade de ir às consultas. Acho que faz parte do processo .
A partilha deste texto é apenas para quem me lê perceber que tudo isto é um processo. Não estou nele sozinha , aliás acho que era impossível. Tenho a certeza que o suporte que temos à nossa volta foi e é fundamental para conseguirmos seguir em frente. Mas este apoio por parte de um profissional pode por vezes ser a chave ou a ajuda mais decisiva para se conseguir desbloquear algumas coisas na nossa cabeça. E que no fim , acalma o coração.
Se precisarem de ajuda, não tenham vergonha, não tenham receio. Reconhecer que se precisa de ajuda, pode resolver uma parte do "problema". O resto logo virá. Com o tempo. Tal como tudo o resto. E nunca se cansem de procurar o equílibrio . De um lado o coração, do outro lado a razão. Não é fácil manter a balança equilibrada. Mas pode ser a solução.
Isto não é a regra, nem eu pretendo que passe essa mensagem. É apenas a minha experiência e a minha vivência. E comigo resultou . Felizmente.
Sara