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Mãe de duas estrelinhas

Mãe de duas estrelinhas

27.Out.17

Um cliché. O meu . Amor para a vida toda !

É dificil começar este texto. Não porque haja pouco a dizer. Há muito a dizer. Ou não fosses tu uma pessoa tão especial. Mas porque quero dizer tanto. E ao mesmo tempo, não me quero alongar. Bela maneira de começar, assim diferente, tal como a nossa história.

Foi uma luta dura, muito dura. Não me facilitaste a vida , fugias da felicidade a sete pés.Deste amor imenso que eu tinha (tenho) por ti. Mas eis que se dá a reviravolta

"Entraste na minha vida devagarinho, e rapidamente te foste tornando especial. Naquela noite foi a reviravolta. Rapidamente tudo aconteceu, e devagarinho te estas a tornar alguém que nao quero perder nunca, que quero para sempre ao meu lado."

Foi isto mesmo que aconteceu, numa sexta feira 13. O dia do azar dizem. Eu cá não concordo. Afinal foi o dia em que embarquei na história mais marcante e emocionante da minha vida. E que história. Dava para escrever um livro. Ou um blog. Afinal foi assim que "começou". E cá estou eu . A partilhar com o mundo que tenho ao meu lado o homem mais maravilhoso que alguma vez conheci. Que sou a menina mais sortuda do mundo por tê-lo ao meu lado. E foi assim desde sempre, lado a lado. Tal como quando tu queres que eu caminhe ao teu lado no passeio e a atravessar a estrada. Dizes tu que é para me proteger.

E agora, em mais uma sexta feira 13, assumimos que queremos caminhar lado a lado para sempre, para o resto das nossas vidas. Que grande desafio temos pela frente. Já fomos testados, até mesmo antes de estarmos juntos. Lutei muito porque acreditei sempre que este amor iria ser especial. Ia ser uma história digna de ser vivida. E a luta valeu a pena. Fomos levados ao limite, num momento que tinha tudo para ser feliz, e que não o foi . Um momento de perda que viveste novamente, e que eu dava tudo para que não tivesses de o passar. Mas infelizmente não consegui. E não é fácil ultrapassar aquilo por que passámos. Fomos ao fundo os dois, e é a dois(felizmente) que nos estamos a levantar. A reconstruir o nosso projecto. Com a certeza que temos duas estrelinhas lá em cima a olhar por nós, a lutar por este amor , e felizes, pois o papá finalmente deu o tão esperado anel à mamã. Num momento único. Como tu o és. Único.

"Mas espero que saibas que nunca vou desistir. De ti , de nós e da nossa família. Porque é isso que quero construir ao teu lado. O nosso amor e a nossa família . E que um dia a nossa Leonor e o nosso Rui Pedro sejam uma realidade. Porque não ha ninguém no mundo que queira para pai dos meus filhos que não sejas tu . És um namorado fantástico , mas mais do que isso és um homem fantástico, que me enche de orgulho."

E como estas palavras estavam longe de imaginar que a vida ia ser tão dura connosco. Fica a última frase. Mais do que nunca, as certezas são as mesmas. Um namorado[futuro marido, espero] fantástico, um homem fantástico, e um pai fantástico. E ainda o meu melhor amigo e companheiro.

Sem dúvida que és o amor da minha vida , aqui ou na China literalmente. Um cliché. Mas é o meu. O nosso. E por isso é especial. Tal como tu . Lembras-te ?

" ' Tu és O amor. Porque és tu que eu quero ao meu lado todos os dias. És tu que eu quero que me faça feliz. És tu quem eu quero fazer feliz. És tu que me fazes sentir especial, mesmo com todos os obstaculos que surgem. És tu que me fazes sentir segura como nunca outra pessoa me fez sentir. (...) E eu amo . Amo da forma mais pura . Porque te amo com todas as qualidades e defeitos. Amo todos os momentos bons e maus. Amo-te no teu todo. Tal e qual como és. Assim !'

As reticências? Nao interessam . Já la vão. 'Levou-as o tempo'.
E agora somos felizes . Os dois."

 

 

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E por fim , obrigada amor da minha vida.

 

Amo-te .

A tua noiva

Sara

 (as citações são de minha autoria, de um blog antigo, quando ele já era o amor da minha vida)

 

17.Out.17

Viver a dura realidade do seviço de neonatologia

Faz hoje 7 meses que entrei pela primeira vez num serviço de neonatologia.

Só de o relembrar fico com um sufoco e um aperto no coração, porque de facto não é para esta realidade que nos preparamos durante a gravidez. Imaginamos a chegada ao quarto com o bebé na sua caminha, onde ficará ali ao nosso lado, e onde o sentimento que reinará será o de alegria. No meu caso, fui apenas eu que entrei naquele quarto, e onde encontrei uma mãe também sem o seu bebé (caso muito diferente do meu). Destaco este cuidado que o hospital, não sabendo se é prática comum em todos, teve em colocar mães que não têm os seus bebés no mesmo quarto.

Foi numa cadeira de rodas, empurrada pelo amor da minha vida, que entrei nas primeiras portas da UCIN do HSFX, depois de nos identificarmos como os pais das gémeas. Ele explicou-me o processo de desinfecção e o que tínhamos de vestir. Comecei a ouvir os “pis”. Aqueles “pis” que até hoje continuam presentes. Aproximei-me das suas caixinhas e lá estavam elas serenas, a “descansar” do duro processo por que tinham passado ao chegar a este mundo. As lágrimas escorriam e o coração ficou pequenino, muito pequenino. O tamanho delas ou até mesmo os fios todos a que estavam ligadas, passou rapidamente a irrelevante. Obviamente que eram muito pequeninas, mas saber que estavam a passar tudo aquilo, a sofrer, e a lutar ao mesmo tempo, e a minha impotência em poder minimizar isso, é muito duro. Era isso que me fazia chorar.

Por mais que nos digam que não devemos chorar ao pé dos nossos filhos que eles sentem, eu não consegui. Não me considero pior mãe por isso, mas não estava preparada de todo para aquela realidade. É muito dura mesmo. E por mais que apenas ficássemos lá sentados somente a olhar para elas, com esperança e a fazer planos, chegávamos ao fim do dia exaustos, sem força. Psicologicamente é de uma violência brutal. E fisicamente, se a recuperação de uma cesariana numa situação normal não é fácil, numa situação destas, a dor torna-se insuportável. Até ao dia que o telefone toca e ouvimos o que não queremos. E infelizmente isso aconteceu ao fim de 6 dias. O telefone tocou, e não houve dores físicas, apenas a psicológica. E que dor. Lidar com a morte e a vida ao mesmo tempo. No mesmo momento em que a nossa estrelinha ML partiu, a nossa MR estava ali ao lado a lutar pela vida. Onde fomos buscar forças ? Não sei. Mas acho que nós pais temos esta força quando é preciso. Quando se trata dos nossos filhos nós temos a força toda do mundo.

E assim foi. Ganhámos força para continuar a nossa luta ao lado da MR, que apenas manifestou problemas no dia que a irmã partiu. Coincidências, ou não. E mais uma vez o telefone tocou. E o coração ficou pequenino. Transferida para a Estefânia. Nova “casa”, novos “vizinhos”. Mas a realidade é ainda mais dura que no HSFX. Bebés e crianças com problemas graves a lutar pela vida. E a nossa MR não foi excepção. Uma enterocolite necrosante, intervenção ao intestino, um pneumotórax e uns profissionais incansáveis. Bebés tão pequeninos e que aguentam tanto. São mesmo uns guerreiros.


É incrível a forma como os pais que estão a viver este dia a dia, sem nunca nos termos cruzado com eles, têm aquele olhar de conforto, uma palavra para tentar minimizar um pouco a nossa dor. Mesmo que os bebés deles estejam na mesma situação de limite. E foi o que aconteceu connosco. Uns pais que nos deram umas palavras que até hoje não esqueço, para não desistirmos e para acreditarmos até ao fim, e no dia seguinte o filho deles, que estava mesmo ao lado da nossa MR, partiu. E como nós compreendemos a dor daqueles pais.
O nosso percurso nas duas unidades de neonatologia foi muito duro, muito atribulado, e muitas vezes fomos buscar a força e a esperança que nos faltava aos testemunhos que os pais de outros bebés que tinham lá estado, tinham deixado. Houve um testemunho que me marcou particularmente em que referia

“Foi neste contexto que chegámos à UCIN, 'pais um dia de cada vez' ouvimos vezes sem fim. No início, os dias são horas, as horas minutos e os minutos segundos, tudo muda a uma velocidade estonteante, provocando um vórtice de emoções, que nos conduz entre a sanidade e a loucura!”

E infelizmente a realidade é mesmo esta. E não desejo a ninguém, ninguém mesmo, que passe pelo que passámos.

Quando passamos por esta realidade, por uma UCIN, percebemos que nem sempre se dá valor ao ter um bebé normal. As nossas “noites sem dormir”, as “cólicas”, o “arrotar” e as restantes preocupações de um bebé normal, foram substituídas por um monitor com os níveis de saturação, batimentos, pelos valores da gasimetria e das análises, pelas ecografias e raio X.
Tudo se resume à luta pela sobrevivência. E nisso as nossas filhas foram umas lutadoras. Até ao fim. E foi no nosso colo que partiram. Serenas. E com a certeza que nós pais as amámos e vamos amar para sempre.

 

 

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Uma palavra de agradecimento a todos os profissionais de saúde com que nos cruzámos e que fizeram tudo o que puderam para dar o mínimo de conforto às nossas filhas na dura batalha que tiveram durante a sua curta vida e que tudo fizeram para as salvar. O nosso muito obrigada.

Beijinho

Sara

04.Out.17

E quando o nosso colo fica vazio depois do parto ?

Dia 17 de Março . Um dos dias mais marcantes da nossa vida .

 

Um boa noite, um acordar bem disposto, e de repente uma perda de líquido.  Alerta por parte das enfermeiras e médica, e um aviso para a equipa de neonatologia e bloco de partos. E lá fui eu, de viagem mais uma vez até a sala de partos, mas desta vez sem retorno ao 4º piso. Foi tudo muito rápido, as águas rebentaram de forma natural , o pai quase não chegava a tempo de me dar um beijinho e a força que precisava para que no bloco as coisas corressem tão "bem". O "bem" que se torna tão relativo. Eram 15:06h quando entrei no bloco de partos e olhei para o relógio. À minha volta uma confusão imensa de obstetras, enfermeiros, anestesiologista, neonatologistas (2equipas!), e duas vozinhas nos meus ouvidos e que permaneceram na minha cabeça durante a minha passagem no bloco. "Vai correr tudo bem meu amor, respira " disse sempre o amor da minha vida ; "Tens de te controlar, não te podes enervar, para ajudares as tuas meninas e a ti" disse a minha mãe, a nossa heroína , ao longo de todo o percurso. Às 15:17h nasceu a nossa Maria Rui e as 15:18h a nossa Maria Leonor. Não consigo explicar o que é ter duas filhas e não as ter nos meus braços. A única coisa que vi foi a carinha da nossa MR, que o médico me mostrou antes de a levar para a neonatologia. E era tão pequenina. Levaram-nas nas suas novas casinhas, e eu fiquei. De colo e coração vazio. Numa 1h estava de volta ao local de onde o meu amor se tinha despedido de mim. E onde ele voltou novamente, com a minha mãe, para juntos tentarmos ganhar alguma força para o que aí vinha.

 

Entretanto o pai foi vê-las. Pareceu uma eternidade. E finalmente quando voltou trazia um miminho especial. As primeiras fotografias das nossas filhas. Um aperto tão grande. Tão pequeninas, a precisarem de tantos apoios, e em situações quase inviáveis de sobrevivência. É uma dor inexplicável. E mais uma vez a vozinha "Têm de ser fortes, elas estão a lutar e vocês vão lutar com elas". Que mãe tão especial que eu tenho. Sou um pessoa tão abençoada. Estou rodeada dos melhores e com duas estrelinhas a olhar por mim. Com tanto "azar" e tão sortuda ao mesmo tempo.

 

Mais uma vez cruzei-me com uma enfermeira impecável, e que apesar de eu necessitar de fazer 12h sem levantar, percebendo o vazio, me ajudou a conhecer as minhas filhas mais cedo do que o previsto. E assim , já passava da 00h quando o meu amor me veio buscar de cadeira de rodas, para me levar a conhecer as nossas filhas.

 

             

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E lá estavam elas, no meio de tantos "pis", no meio de tantos fios. Tranquilas, serenas. E a lutar pela vida.

 

Sara