Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Mãe de duas estrelinhas

Mãe de duas estrelinhas

20.Set.17

Estava tudo a correr bem mas ...

Estava tudo a correr bem .

 

Tal como disse no post anterior, eu tive uma gravidez muito tranquila, mas só até às 21 semanas e 3 dias . Na semana em que fiz 21 semanas, uma das noites adormeci no sofá. No dia seguinte estava com muitas dores de costas, e achei que como tinha adormecido torta no sofá, que tinha feito uma contratura. Nessa noite as dores tornaram-se insuportáveis, as idas à casa de banho frequentes, uma suspeita de infecção urinária, e de madrugada fui ao hospital. O hospital escolhido foi o São Francisco Xavier, que só tenho a dizer bem, ao longo de todo o processo desde este dia, até ao momento em que a nossa pequenina foi transferida para a Estefânia. Mas isso ficará para outro post, porque há coisas boas a dizer sobre o hospital público e sobre as pessoas com quem me cruzei ao longo do processo.

Logo na consulta de triagem a médica suspeitou de infecção renal, pelas pancadas que me deu e os sintomas que eu apresentava. Fiz recolha de sangue para análises , e depois de umas valentes horas de espera e muito nervos, o veredicto final . Confirmou-se a infecção renal e o internamento. Muitas lágrimas, muito medo, muitas dúvidas. Será que vai correr tudo bem ? As infecções são "comuns" na gravidez , mas têm os seus riscos, e um deles é que pode levar a parto permaturo. O internamento decorreu com tranquilidade, tive uma colega de quarto que foi uma óptima companheira, horas e horas de conversa e assim passou. No dia em que iria ter alta, fiz uma ecografia e a médica detectou que estava com o colo do útero mais curto do que o suposto e mandou-me acalmar, mas de resto estaria tudo bem . Acabei por só ter alta no dia seguinte precisamente por precaução por ser uma gravidez gemelar. Fui para casa e fui tendo mais momentos de repouso. Entretanto já as tinha começado a sentir, e foi precisamente durante o internamento que o papá as sentiu pela primeira vez. É uma sensação incrível sentir estas pequenas cócegas iniciais, que entretanto vão aumentando para os pontapés ou pelo espreguiçar. E desde cedo que a nossa Maria do andar de cima mostrava o seu desagrado cada vez que andava de carro. E assim começaram as dores de ancas (imensas), que não me deixavam dormir e eu só estava de 22/23 semanas e a imaginar como seria no final . E a barriga a ficar rija em determinados sítios. Mas como não ficava toda rija, nao estranhei. E na verdade , não cheguei ao fim para saber como seria.

No dia 6 de Março, véspera de fazer 24 semanas estava com imensas dores nas ancas. Foi um perda nesse dia que me levou às urgências novamente. Tive alguns percalços na consulta de triagem, mas foi ao fazer o ctg que se deu o alarme. Aquelas dores que tinha eram contracções, juntando a um colo do útero quase inexistente, o que levou obviamente a mais um internamento. Fui logo medicada para tentar parar as contracções, injecções para maturação dos pulmões das nossas pequeninas e repouso absolutíssimo. Foi um internamento muito atribulado, muitas lágrimas, muitas situações para gerir, e acima de tudo MEDO. Muito medo.

 

IMG_2126.JPG

 

Voltando ao assunto do post anterior, tal como eu referi, o facto de as minhas estrelinhas partilharem a mesma placenta poderia levar a algumas complicações, nomeadamente ao síndrome de transfusão feto fetal (STFF), mas como as percentagens eram baixas, nunca pensei muito nisso. Até ao dia 13 de Março. Um dia que era de festa, pois a avó Tina fazia anos, tornou-se num dia muito triste. Ao fazer uma ecografia, a médica detetou diferenças acentuadas nas quantidades de líquidos e no tamanho delas.

"A STFF é uma complicação grave das gravidezes monocorióncias, onde ocorre transfusão de sangue do gémeo dador para o gémeo receptor, através de anastomoses interplacentárias. É uma complicação grave, associada a riscos elevados de mortalidade fetal e neonatal. Os fetos sobreviventes têm riscos de morbilidade cardiovascular, neurológica e atraso do desenvolvimento superiores."

https://repositorioaberto.up.pt/bitstream/10216/63610/2/TESE%20MESTRADO%20SINDROME%20DE%20TRANSFUS%C3%83O%20FETOFETAL.pdf

Na 5ª feira dessa semana, fiz nova ecografia com uma especialista na área que me propôs uma das terapêuticas utilizadas em casos como estes , a amnioredução ou amniocentese seriada.

"A remoção de volume de líquido amniótico, através de amnioredução, visa obter melhoria da pressão intravascular e da circulação placentária."

https://repositorioaberto.up.pt/bitstream/10216/63610/2/TESE%20MESTRADO%20SINDROME%20DE%20TRANSFUS%C3%83O%20FETOFETAL.pdf

E foi em casal, como sempre desde que estamos juntos, que tomámos uma decisão difícil mas consciente. Não vou dizer que é fácil nem que se toma qualquer decisão que tenha a ver com a saúde dos nossos filhos de ânimo leve. Mas teve de ser tomada e assumida por nós. Obviamente, como em qualquer terepêutica, poderia ter as  consequências, sendo uma delas , entrar em trabalho de parto. E, efectivamente, foi o que aconteceu. Passadas 24horas, depois da melhor noite de todo o internamento, e de um acordar tranquilo e bem disposto, a bolsa rompeu.

Às 25 semanas e 3 dias. Aconteceu. Fui mãe.

 

IMG_2131.png

 

 

Beijinho

Sara

 

 

 

 

 

 

 

 

14.Set.17

Não é um , são dois !!

Não era um, eram dois ! Foi desta forma que eu soube.

 

Quando eu soube que estava grávida foi um "choque". Não que não fosse planeado, porque foi e muito desejado, mas porque engravidei muito "rápido" e porque era mesmo real. Uma das coisas que mais desejava era ser mãe, e o meu desejo estava ali naqueles dois tracinhos, a tornar-se real. Foi uma felicidade imensa, partilhada com os nossos pais, que ficaram igualmente radiantes.

Quando soubemos que iam ser gémeos foi um choque . Um choque mesmo . Mãos na cabeça, lágrimas nos olhos, "não pode ser, não pode ser" repetido vezes sem conta, e um pai na Finlândia prestes a ter um colapso quando soube da novidade através do skype. Mas rapidamente esse choque passou e ao fim do dia já brincávamos ligeiramente com a situação . Aquilo que era para ser guardado ate à ecografia do primeiro trimestre, rapidamente teve de ser partilhado com a família. Na verdade era um motivo de felicidade e "Hapiness is only real when shared". E assim foi . Aos poucos as pessoas que nos rodeavam foram sabendo, e era um máximo ver a reacção quando acrescentávamos à boa nova, que vinha a dobrar.

 

IMG_1969 (1).JPGIMG_1970.JPG

 

Não tive grandes sintomas durante a gravidez, apenas fiquei mal disposta um dia , e sentia algumas alterações no paladar, e por isso só me apeteciam determinados alimentos . Ah e aquela coisa que dizem que às vezes na gravidez passamos a comer coisas que antes não comíamos ? É verdade. Detestava kiwis e, durante a gravidez, era das coisas que mais prazer me dava comer. No geral, gostei muito de estar grávida, foi uma sensação incrível.

As pesquisas começaram sobre esta nova realidade : uma gravidez gemelar . Li imensas coisas e passei a saber algumas coisas. Então existem dois tipo de gémeos : os monozigóticos - idênticos ou verdadeiros - e os bizigóticos ou dizigóticos - falsos ou fraternos . Mas dependendo do número de placentas e sacos amniótiocos , ainda há mais uma designação. No casos dos gémeos bizigóticos estes são bicoriónicos pois apresentam duas placentas e dois sacos amniótiocos. No caso dos gémeos monozigóticos , estes podem ser monocoriónicos/monoamnióticos - uma placenta e um saco amniótico - ou monocoriónicos/biamnióticos - uma placenta e dois sacos amnióticos. E este era o meu caso, o que me deixou mais apreensiva. Tal como fui lendo, uma gravidez gemelar é sempre uma gravidez de risco, mas no caso das gravidezes monozigóticas, o risco é mais acrescido pois há mais complicações que podem surgir. Que foi o que, infelizmente aconteceu comigo.

 

Mas deixo essa partilhada para um novo post. Hoje é um bocadinho mais "educativo", mas também passa por aqui, nem todas as pessoas sabem estes pormenores das gravidezes gemelares, tal como eu desconhecia. E talvez fará mais sentido antes de contar o que aconteceu, explicar o que poderá levar ao nosso desfecho.

 

Por fim uma palavra de agradecimento por todos os miminhos que recebi, as vossas mensagens encheram-me o coração, e deixaram-no bem quentinho. E aposto que deixaram as nossas estrelinhas felizes, por saberem que os pais estão rodeados de amor e de pessoas que gostam deles.

 

Não era um, eram dois corações a bater dentro de mim ! E que vão bater para sempre !

Beijinho

Sara

 

 

05.Set.17

5 !

Há 5 meses e 20 dias fui mãe.

Há 5 meses e 14 dias perdi a minha primeira filha .

Há 5 meses perdi a minha segunda filha .

 

Este é o resumo [mais frio] do que tinha tudo para ser a maior e mais feliz aventura da minha vida . Mas não foi. A realidade foi esta. O nosso desejo , a nossa aventura , acabou ao fim de 20 dias . E perdemos as nossas duas filhas . Foi um golpe muito duro, o mais duro da minha vida. E com o qual não contávamos . Estava tudo a correr bem , estavam[os] rodeadas de amor , de carinho , de esperança, pois as nossas meninas eram a esperança de muitas mudanças. Não só na nossa vida , mas na vida de quem nos rodeava . Mas algo não quis que assim fosse,e a dúvida permanece . Porquê ? Porquê nós ? Difícil de perceber e aceitar, às vezes. E essa é talvez a nossa maior luta, resignarmo-nos a um facto que por mais que tentemos perceber não tem mesmo explicação. Não há resposta.

 

Este cantinho foi criado inicialmente com o intuito de partilhar como seria ser mãe de gémeas, partilhar a nossa aventura com quem nos quisesse ler . Agora o intuito é outro . Partilhar que nem sempre a realidade é cor de rosa, que nem sempre as coisas correm bem , que infelizmente há mais casos "destes" do que nós pensámos, que infelizmente vimos esta realidade de perto . E que é duríssima. E nem sempre é partilhada. E para partilhar também coisas boas , que eu tenho esperança que também as haja na nossa vida . Porque apesar do "desespero", nós escolhemos a esperança. E o AMOR.

 

E a pergunta impõe-se por fim.  

Eu fui mãe. Ou sou mãe ?

 

Beijinho

Sara

 

 

Anjinhos.jpg